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Maguila morreu. Vamos cantar!

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Homenagem ao maior peso pesado da história do pugilismo brasileiro!

por Airton Gontow

Fiz neste Shabat, o dia de celebração, reflexão e descanso semanal do judaísmo, uma singela homenagem a José Adilson Rodrigues dos Santos, o Maguila, que morreu, aos 66 anos, na última quinta-feira, 24 de outubro.  O lutador sofria de encefalopatia traumática crônica, conhecida “popularmente” por demência pugilística, diagnosticada em 2013, que é consequência das pancadas que levou na cabeça durante os 17 anos de sua vitoriosa carreira. O boxeador fez 85 lutas, com 77 vitórias (61 delas por nocaute), sete derrotas e um empate técnico.

Mesmo sem ter uma técnica apurada, Maguila conquistou muitos títulos e é o maior peso pesado da história do País. Foi campeão mundial pela Federação Mundial de Boxe (FMB)* e tem diversos outros títulos relevantes, como o Campeonato das Américas, o pentacampeonato continental, o Sul-Americano e o Brasileiro.  Chegou a trabalhar com o icônico Angelo Dundee, treinador de grandes campeões do boxe, como Muhammad Ali e George Foreman.

Foi um vencedor, mesmo quando perdeu. Saiu com dignidade até nas derrotas mais contundentes, como para Holyfield e Foreman.  Isso porque Maguila tinha bravura e bom humor. Ria e fazia rir, principalmente quando falava sobre sua própria história, marcada por, claro, muita luta, resiliência e superação.

Mesmo distribuindo socos, passou sempre para o público brasileiro uma imagem carinhosa e divertida. O apelido veio da sua suposta semelhança com o gorila Maguila, simpático e bonachão personagem de desenho infantil, criado pelos estúdios Hanna-Barbera.  

Sergipano de Aracaju, nascido em 11 de julho de 1958, se mudou para São Paulo aos 14 anos, para trabalhar como ajudante de pedreiro. Como tantos bravos nordestinos passou por inúmeras dificuldades.

No documentário “Maguila”, de Galileu Garcia, de 1987, contou que chegou a viver em um caminhão abandonado no bairro do Butantã, período em que se alimentava quase que exclusivamente de pão e banana. Depois que o dono do caminhão o descobriu e retirou o veículo do local, passou a dormir junto a um poste.

Seu bom humor, que sempre alegrou o público brasileiro, ajudou-o após o término de sua carreira. Em 1991, participou do programa “Aqui e Agora”, do SBT, como comentarista de economia. Em 93, foi homenageado pela escola de samba paulistana Camisa Verde e Branco, com o enredo “Maguila, a saga de um campeão”, que celebrava sua trajetória de vida e de pugilista. Em 2004, passou atuar no programa humorístico “Show do Tom”, da Rede Record. Na Bandeirantes, participou do quadro “Fora do Ringue”.

Em 2009, após ganhar um prêmio em uma competição de calouros, gravou o Álbum de Samba “Vida de Campeão”, onde contou sua história e regravou sucessos de Arlindo Cruz, Zeca Pagodinho e Bezerra da Silva, entre outros. Sua popularidade não serviu para angariar votos na política. Em 2010, se candidatou a deputado federal pelo PTN (Partido Trabalhista Nacional), mas não foi eleito.

Ao saber de sua morte, lembrei-me de um vídeo em que ele falava, no programa 25ª Hora, da TV Record, sobre homossexualidade.

Em 1992, Maguila fala sobre homossexualismo: “não é doença”!

Acho-o exemplar.

Que depoimento!

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Que leveza!

Que soco no estômago da intolerância!

O vídeo, aliás, tinha sido repostado cinco dias antes da morte de Maguila por seu filho, Adilson Rodrigues Júnior, conhecido como Júnior Ahzura, ativista e apresentador do podcast “Gordosfera”, que o homenageou e chamou-o de “herói nacional”.  O caçula dos três filhos do boxeador destaca que o pai falou sobre o tema em 1992, muito antes de supor que um dia teria um filho gay.

Além dos filhos, Maguila deixou a esposa, Irani Pinheiro.  Em sua biografia “Maguila – A Saga De Um Cabra Macho Campeão”, de Carlos Alencar, de 1997, o pugilista disse que conquistar Irani foi a luta mais difícil de sua vida.  “O velho era racista e não queria que a Irani casasse com um negrão feito eu”. Irani, que hoje é advogada, quando começou a namorar Maguila trabalhava como professora de Datilografia. Foi acusada por muitas pessoas de ser uma “interesseira”. O amor resistiu a tudo. Maguila e Irani viveram juntos por 41 anos – 10 de namoro e 31 de casamento.

Maguila era bom de briga, mas não perdia o respeito e a ternura!

Lembrei-me também daquela famosa música judaica, Hava Naguila (“Alegremo-nos”). Foi por isso que cantei em casa, ao final da cerimônia do Shabat, ontem, sexta-feira, como homenagem e reverência a esse grande personagem do esporte brasileiro.

Só que mudei um pouquinho a letra:

“Hava Maguila Hava…

Maguila Hava.

Maguila vê-nismechá…

Hava, Maguila Hava….”


N.R – As três principais entidades do boxe mundial são a CMB, Conselho Mundial de Boxe; AMB, Associação Mundial de Boxe e a FIB, Federação Internacional de Boxe. Depois, têm alguma representatividade a OMB, Organização Mundial de Boxe e a FMB, Federação Mundial de Boxe.

Airton Gontow
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5 comentários sobre “Maguila morreu. Vamos cantar!

  • Máquina na sua simicidade grotesca e humilde, sempre foi um cavalheiro educado, até onde a sua simplicidade permitia. Era um homem ético e foi um grande exemplo para o Brasil. Fez a passagem cedo por causa da demência pugilista; uma pena!!!

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  • Hava Magila ficou ótima! Kkkk Excelente sacada, como sempre!

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  • Muito bom. Antes de ler, para mim, era so um bocmxeador. Agora, eh um personagem.

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    • O nosso foi uma boa sacada. Maguila era bom, também, nas “socadas”…

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